sexta-feira, novembro 22, 2024
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Alexandre diz que o povo confia no TSE. Se alguém negar, vai preso

Um ditador, um tirano, sempre percorre dois caminhos para se dizer adorado pelo povo que oprime. Um é o autoengano de se achar adorado. Outro é a mentira demagógica de saber que o medo silencia as pessoas que ousem contestar sua projeção de adoração popular. Arrisco dizer que Alexandre de Moraes une as duas coisas quando disse, em sua despedida do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o Brasil confia em seu trabalho no comando da Justiça Eleitoral.

Nem sequer importa a discussão sobre urnas eleitorais. Houve uma clara parcialidade do TSE no pleito eleitoral de 2022, com censuras, perseguições, silenciamento de opiniões de toda sorte de pessoas, desde jornalistas a políticos e pessoas comuns, e redução de propaganda de um lado da campanha em favor de outro.

Lula, retirado da cadeia, não pode ser chamado de abortista, ou ladrão ou mesmo de amigo de ditadores. O petista, que já fez ode ao aborto, que foi condenado por corrupção e recebeu ditadores com tapete vermelho, pode chamar à vontade Jair Bolsonaro de assassino, genocida e fascista.

A censura e a liberdade ampliada desproporcional de ambos os lados se ampliou para o massacre e perseguição inclemente de um dos lados da disputa. De pessoas ligadas a um lado da disputa. Não só Bolsonaro perdeu as eleições para uma Justiça eleitoral parcial, como qualquer pessoa que contestasse o mesmo TSE de forma mais incisiva teve sua liberdade cerceada ou mesmo anulada.

Moraes além do TSE

Sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
Fachada do TSE, em Brasília; ministro Alexandre de Moraes comandou a Corte no decorrer dos últimos dois anos | Foto: José Cruz/Agência Brasil

Moraes sabe disso. Sabe, mas crê — ou finge que crê — que salvou o Brasil de uma ameaça fascista? Ninguém sabe. Ele sabe que usou métodos tirânicos para perseguir pessoas como censura prévia, ausência de individuação de conduta, criação de crimes que não existem no Código Penal, etc.

O que se mede sobre o senhor Moraes é o julgamento de suas ações. Ele foi, com o amplo endosso dos demais juízes do Supremo Tribunal Federal, o responsável pela erosão das liberdades individuais e da própria democracia no Brasil pela maior perseguição política jamais feita a um espectro político de uma maioria da população, o conservadorismo.

“Nenhuma democracia no mundo censura previamente ou prende pessoas por crime de opinião”

Adrilles Jorge

Em seu discurso de despedida do TSE, Alexandre diz que a Justiça no Brasil fez o que nenhuma democracia no mundo teve coragem de fazer. Claro, nenhuma democracia no mundo censura previamente ou prende pessoas por crime de opinião. Para justificar seu arbítrio, Moraes diz que reconciliou o Brasil, que famílias estavam se separando, pessoas se suicidando, que crimes como apologia ao nazismo estavam tomando corpo (onde, meu Deus?). De fato pessoas estavam brigando, entre outras razões, porque metade ou mais da metade da população percebia que a Justiça arrancou um condenado da cadeia e acusava um homem apenas rude de ser um.

Sai Moraes. Entra Cármen Lúcia

Os ministros Alexandre de Moraes (à esq) e Cármen Lúcia (à dir), durante sessão plenária no STF | Foto: Ton Molina/Estadão Conteúdo
Os ministros Alexandre de Moraes (à esq) e Cármen Lúcia (à dir), durante sessão plenária no STF | Foto: Ton Molina/Estadão Conteúdo

Assassino em massa e candidato a ditador, sendo que esta mesma Justiça implementava um regime ditatorial em nome de uma falsa defesa de uma falsa democracia em oposição a uma suposta ditadura do homem a quem acusava de ditadura e nunca investiu um milímetro contra a liberdade . O que era — e ainda é — enlouquecedor é que uma grande mídia endossava e endossa este regime por razões ideológicas e financeiras.

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Não há maneira de haver uma sociedade saudável assim. Apenas a loucura social se deu por causa das ações desta Justiça — e não porque a Justiça intercedeu em nome de uma democracia que ela mesma destruiu. É uma inversão demoníaca o discurso do juiz que agora deixa o comando do TSE.

Deixa em termos. Será criado um gabinete de perseguição de fake news comandado justamente pelo senhor Moraes, que, ao que tudo indica,  investirá nos mesmos métodos de criminalização de opinião de 2022. Em seu lugar entra a ministra Carmen Lúcia, que diz que Moraes foi o homem certo na hora certa para combater um golpe. A ministra foi aquela mesma que censurou um documentário da Brasil Paralelo — sem vê-lo — dizendo que estavam censurando mesmo até segunda ordem. Uma segunda ordem que até hoje não veio.

Críticas a autoridades em democracias

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que é alvo de críticas — sem que ninguém seja judicialmente punido por isso | Foto: Reprodução/Redes sociais

Importante salientar sempre que toda democracia no mundo suporta críticas severas ou até levianas às suas instituições e seus representantes destas instituições. Nos Estados Unidos, há uma forte discussão sobre, por exemplo, a lisura das eleições de Joe Biden.

Não só não houve um arranhão na democracia como esta ou qualquer outra discussão — que é lícita nos EUA ou em qualquer democracia real no mundo — sustenta o permanente diálogo que é o sedimento da democracia. Isso porque sem diálogo, sem crítica, não há democracia

Contudo, no Brasil, não, como disse Alexandre de Moraes. No Brasil foi diferente, disse o homem que prendeu, censurou e processou toda opinião que não se adequasse à verdade suprema da sua Justiça Eleitoral. De acordo com Alexandre, no Brasil, todos confiam na Justiça Eleitoral. E se disserem não confiarem… Correm os riscos já previstos.

Via Revista Oeste

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