A Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais (ABCAA) bateu o martelo e anunciou, nesta segunda-feira (23), que “Ainda Estou Aqui“, filme de Walter Salles, será o representante brasileiro na categoria de Melhor Filme Internacional para o Oscar 2025. Esta será 54ª tentativa do Brasil emplacar uma indicação na categoria.
Ao longo desses anos, no entanto, a sorte não parece sorrir para o Brasil. Das 54 tentativas, apenas quatro filmes conseguiram ser indicados: “O Pagador de Promessas“, em 1963; “O Quatrilho“, em 1996; “O Que É Isso, Companheiro?“, em 1998; e “Central do Brasil“, em 1999.
As chances de “Ainda Estou Aqui” são relativamente maiores em comparação aos anos anteriores. O filme conquistou o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Veneza 2024 e foi selecionado para outros importantes eventos da indústria, como o AFI Fest.
Com a distribuição da Sony Pictures Classics nos Estados Unidos, ele também já é visto por muitos especialistas como um forte concorrente ao Oscar.
Para comemorar a nova submissão, a CNN revisitou dez candidaturas brasileiras notáveis na premiação, destacando tanto polêmicas quanto sucessos. Confira:
- “A Morte Comanda o Cangaço” (1960)
A primeira candidatura do Brasil ao Oscar ocorreu em 1961, com o filme “A Morte Comanda o Cangaço“. Dirigido por Carlos Coimbra e Walter Guimarães Motta, o longa narra a história de Raimundo Vieira, um camponês que tem sua fazenda incendiada e sua mãe assassinada por um bando de cangaceiros liderados por Silvério, a mando do Coronel Nesinho.
Em busca de justiça, Vieira reúne seus homens de confiança e parte em uma caçada implacável atrás dos criminosos e do coronel.
- “O Pagador de Promessas” (1962)
No Oscar de 1963, o Brasil teve mais sorte com sua candidatura “O Pagador de Promessa“, que conseguiu ser indicada e se tornou o primeiro filme brasileiro a concorrer na categoria de Melhor Filme Internacional (na época chamada de Melhor Filme Estrangeiro).
Além disso, essa produção é reconhecida como a primeira e única do Brasil a conquistar a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme acompanha Zé do Burro (Leonardo Villar), que, após seu asno de estimação ser atingido por um raio, promete carregar uma enorme cruz de madeira até a igreja de Santa Bárbara. No entanto, sua jornada se transforma em um verdadeiro pesadelo.
No Oscar, o filme perdeu para o francês “Les dimanches de Ville d’Avray“.
- “Pixote, a Lei do Mais Fraco” (1980)
A produção de Hector Babenco foi escolhida para representar o Brasil no Oscar. No entanto, após a aprovação da candidatura pela Academia, o filme foi desqualificado porque havia sido exibido nos cinemas antes da data permitida para elegibilidade. Ainda assim, o filme foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, embora não tenha conquistado o prêmio.
Marília Pera também recebeu destaque internacional por sua atuação, ganhando o prestigiado National Society of Film Critics Awards de Melhor Atriz, um prêmio altamente reconhecido pela crítica especializada. A história acompanha um menino de 11 anos que vive nas ruas após escapar de um reformatório, onde adquiriu conhecimentos sobre o crime ao conviver com diversos delinquentes. No Rio de Janeiro, ele sobrevive atuando como traficante, assassino e até cafetão.
Após quatro anos sem enviar candidaturas, o Brasil retornou à categoria em 1996 com “O Quadrilho”, que foi indicado ao Oscar.
Dirigido por Fábio Barreto e baseado no livro homônimo de José Clemente Pozenato, o filme acompanha dois casais que dividem a mesma casa em uma comunidade rural de imigrantes italianos no Rio Grande do Sul.
No Oscar, o filme perdeu para “A Excêntrica Família de Antônia“, dos Países Baixos.
- “O Que É Isso, Companheiro?” (1997)
Apresentado no Festival de Berlim de 1997, “O Que É Isso, Companheiro?“, dirigido por Bruno Barreto, marcou a terceira indicação do Brasil na categoria de Filme Internacional.
Estrelado por Pedro Cardoso e Fernanda Torres, o filme é uma adaptação do livro homônimo de Fernando Gabeira, publicado em 1979, que narra a história do jornalista Fernando e seu amigo César, que se juntam à luta armada contra a ditadura militar.
No Oscar, o filme perdeu para “Caráter“, dos Países Baixos.
- “Central do Brasil” (1999)
Uma das produções brasileiras mais emblemáticos do cinema moderno, “Central do Brasil” marcou a última vez que o Brasil foi indicado à categoria de Filme Estrangeiro. A produção de Walter Salles acompanha Dora, interpretada por Fernanda Montenegro, uma ex-professora que escreve cartas para analfabetos, ficando com o dinheiro sem enviá-las. Sua vida muda após a chegada de Josué, um menino de nove anos em busca de conhecer o seu pai.
Além da indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, “Central do Brasil” também rendeu uma indicação para Fernanda Montenegro na categoria de Melhor Atriz, tornando-a até 2024 a única atriz brasileira a receber essa honraria. O filme teve uma temporada internacional de grande reconhecimento, conquistando o Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim e o Urso de Prata de Melhor Atriz, além de um Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro.
O que pesou contra “Central do Brasil” no Oscar daquele ano foi a forte concorrência de “A Vida É Bela“, filme italiano que foi um grande sucesso na temporada. “A Vida É Bela” venceu os prêmios de Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Ator para Roberto Benigni e Melhor Trilha Sonora, além de receber indicações nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Edição.
- “Cidade de Deus” (2003)
O Brasil submeteu o filme “Cidade de Deus” para representar o cinema brasileiro no Oscar de 2003. Embora o longa não tenha sido indicado, sua exibição nos Estados Unidos chamou a atenção de Harvey Weinstein, na época executivo da The Weinstein Company. Ele decidiu adquirir a obra e distribuí-la no circuito comercial americano no mesmo ano.
Graças à recirculação, a produção ganhou uma nova oportunidade de competir pelo prêmio, mas não na categoria de Filme Estrangeiro. A estratégia funcionou e o longa foi indicado ao Oscar 2004 nas categorias de Melhor Direção, para Fernando Meirelles, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Edição.
O filme mostra a ascensão do crime organizado na Cidade de Deus, uma favela do Rio de Janeiro que se tornou extremamente perigosa nos anos 1980. A narrativa acompanha a vida de vários personagens, entrelaçados pela perspectiva de Buscapé.
Em 2024, a produção ganhou um derivado para o streaming, a série “Cidade de Deus: A Luta Não Para”, da Max.
- “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” (2007)
Produção Cao Hamburger, o longa foi escolhido pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil no Oscar de 2008. A candidatura surpreendeu muitos, pois “Tropa de Elite“, de José Padilha, era o favorito para ser selecionado.
“O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” avançou até a penúltima fase da disputa, onde nove filmes são pré-selecionados pela Academia, mas não conseguiu a indicação final. Essa foi a última vez que o Brasil esteve tão próximo de uma nomeação oficial.
O longa narra a história de Mauro (Michel Joelsas), um garoto de doze anos que adora futebol e jogos de botão. Sua vida dá uma reviravolta quando seus pais saem de férias de forma inesperada, sem explicações aparentes para ele.
- “Pequeno Segredo” (2016)
“Pequeno Segredo” foi o filme escolhido para representar o Brasil na busca por uma indicação ao Oscar 2017. No entanto, essa decisão causou polêmica e surpresa, pois muitos esperavam que “Aquarius“, de Kleber Mendonça Filho, fosse a seleção, especialmente após seu sucesso no Festival de Cannes daquele ano.
Segundo Mendonça Filho, “Aquarius” não foi selecionado devido ao protesto da equipe contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff durante o Festival de Cannes. Ele alegou que o filme sofreu retaliações políticas por parte do comitê responsável pela escolha.
A trama de “Pequeno Segredo” gira em torno de três histórias paralelas que se entrelaçam por meio de um segredo guardado pela família da jovem Kat.
- “Retratos Fantasmas” (2023)
A mais recente tentativa do Brasil de competir pelo maior prêmio do cinema foi com “Retratos Fantasmas“, de Kleber Mendonça Filho.
O documentário explora o centro da cidade de Recife e os cinemas da região, sob a perspectiva do diretor, que também compartilha um pouco de sua trajetória na indústria cinematográfica. O longa teve sua estreia mundial no Festival de Cannes de 2023, em uma mostra paralela.
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