A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), presidida por Ricardo Cappelli, paga até R$ 1 mil em diárias para viagens que duram menos de um dia. Segundo apuração do jornal Folha de S.Paulo, em 2024 foram 25 pagamentos para idas e voltas no mesmo dia.
Segundo a reportagem, o maior beneficiado é o próprio presidente da agência, que assumiu o posto depois de deixar o Ministério da Justiça, quando Flávio Dino virou ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele fez quatro viagens do tipo, pelas quais recebeu R$ 3,9 mil.
Cappelli é pré-candidato ao governo do Distrito Federal pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Ele foi o escolhido pelo governo federal para comandar a intervenção na Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal depois dos atos de 8 de janeiro.
Em abril do ano passado, Cappelli assumiu interinamente o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), depois da demissão do general Gonçalves Dias. Ele ficou no cargo por aproximadamente um mês, antes de ser substituído pelo general Marcos Antonio Amaro.
Cappelli marcou viagem em cima da hora
Das quatro viagens de Cappelli, duas foram para o Rio de Janeiro, uma para São Paulo e uma quarta para São Luiz. Segundo a Folha, todos os deslocamentos foram solicitados em cima da hora, com a variação do tempo entre o pedido e a viagem entre um e quatro dias.
A ex-deputada federal Maria Perpétua de Almeida (PCdoB-AC) ocupa o segundo lugar em diárias, que somam R$ 2,9 mil. Depois de não se reeleger em 2022, ela foi nomeada diretora de Gestão da ABDI.
Ela fez quatro viagens, sendo duas para São Paulo, uma para o Rio de Janeiro e uma para Rio Branco. Em uma das viagens para a capital paulista, em 1º de fevereiro deste ano, ela não recebeu diárias.
Procurados pela Folha, Cappelli e Pérpetua não quiseram se pronunciar. A assessoria de imprensa da ABDI disse que “os valores e critérios para diárias foram estabelecidos em maio de 2023 pela gestão anterior”.
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“Desde o início da nova gestão, em 22 de fevereiro deste ano, todas as normas estão sendo revisadas, processo que será concluído no próximo mês”, acrescentou.
As diárias servem para pagar hospedagem, deslocamento, alimentação e outros custos em viagens a trabalho.
Em casos de viagem sem pernoite no destino, o gasto de hospedagem não existe. Por isso, em situações de viagem “bate e volta”, a Câmara dos Deputados, o Executivo, o Senado e o Supremo Tribunal Federal (STF) cortam o valor da diária pela metade.
As regras da ABDI não fazem menção à diminuição da diária em viagens sem pernoite. A única restrição é em casos de conexão com mais de duas horas e que passem de um dia para o outro. Nesse caso, o valor é cortado pela metade.
“A reserva e o pagamento de hospedagens nacionais serão providenciados pelo viajante e serão de sua total responsabilidade, devendo ser custeados, incluindo todas as respectivas taxas, com o valor recebido a título de diárias”, diz.
Além de não cortar o valor em viagens sem pernoite, a ABDI tem a segunda maior diária na comparação com os Três Poderes. A maior é do STF, que fica entre R$ 1.026,86 e R$ 1.466,95 para ministros da Corte.