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afinal, já foram descobertas exoluas?

Os astrônomos sempre souberam que encontrar luas fora do Sistema Solar seria uma tarefa difícil. E agora a busca por exoluas ganhou um novo capítulo, com uma pesquisa que contesta uma refutação da existência desses objetos. 

Vamos entender:

  • A primeira possível exolua teria sido descoberta em 2018, com uma segunda em 2022;
  • No fim do ano passado, um artigo científico pôs em cheque a existência desses satélites naturais extrassolares;
  • Agora, os pesquisadores por trás das descobertas de 2018 e 2022 fizeram uma tréplica em cima deste artigo, defendendo que os corpos identificados são, sim, exoluas.

Sobre as descobertas das exoluas

Tudo começou em 2018, quando uma equipe de pesquisadores liderada pelo pós-doutor em astronomia David Kipping, da Universidade de Columbia (EUA), usando dados obtidos pelo Telescópio Espacial Kepler, da NASA, revelou ter encontrado uma lua torno do exoplaneta Kepler-1625b, um mundo semelhante a Júpiter localizado a 8 mil anos-luz de distância.

A exolua foi chamada de Kepler-1625b I, e sua descoberta foi aparentemente confirmada a partir de dados do Telescópio Espacial Hubble.

Em 2022, outra pesquisa, que também incluía Kipping entre seus autores, apontou que haviam descoberto outra exolua em torno do Kepler-1708 b, um gigante gasoso 4,6 vezes mais massivo que Júpiter, localizado a 5,4 mil anos-luz da Terra. Essa nova descoberta recebeu o nome de Kepler-1708 b I.

As duas exoluas são completamente estranhas aos satélites naturais encontrados no Sistema Solar. Isso porque elas são gigantes, tendo de 1,6 a 4 vezes o tamanho da Terra, escala muito mais parecida com uma classe de objetos que chamamos de mini-Netunos. No entanto, até então, parecia certo que a humanidade havia descoberto as primeiras exoluas. Isso, até dezembro de 2023.

Ilustração mostra uma estranha exolua do tamanho de Netuno orbitando um exoplaneta. Crédito: Dan Durda

Encontro das exoluas é refutado

A forma utilizada para encontrar essas duas luas é muito semelhante ao método de trânsito utilizado para encontrar exoplanetas, que depende da detecção de uma pequena queda de luz da estrela-hospedeira. O mesmo se aplica às exoluas, se estiverem posicionadas corretamente em torno do planeta que orbitam enquanto este transita pela sua estrela, elas também causarão uma queda de luz, embora em muito menor escala.

Pela queda de luz ser muito insignificante, ela não pode ser vista diretamente, sendo necessário a utilização de algoritmos de software de computação poderosos que permitam que as exoluas sejam detectadas em meio aos dados do telescópio. 

Em um estudo publicado em 2023 na revista Nature Astronomy, uma equipe de pesquisadores liderados por René Heller, astrofísico do Instituto Max Planck de Pesquisa do Sistema Solar, refutou a existência das exoluas. Utilizando um algoritmo de software muito parecido com o usado por Kipping e seus colegas, os cientistas puseram em dúvida a descoberta desses objetos extrassolares.

Para Heller e sua equipe, a queda de luz na estrela que indicou a existência da Kepler-1625 b I se deve a um efeito chamado “escurecimento dos membros estelares”, que significa que as bordas da estrela são mais escuras que o seu centro, resultando no sinal das exolua.

Refutação da refutação

Agora, em um artigo disponível no servidor de pré-impressão ArXiv, a equipe de Kipping respondeu ao artigo de Heller, levantando argumentos para defender a existências dessas luas fora do Sistema Solar.

Em resposta ao site Space.com, Kipping apontou que, apesar de usar os mesmos dados, o software usado por Heller e sua equipe é diferente.

Os pacotes de software que usamos são quase gêmeos um do outro. O pacote deles é muito mais recente. Só existe há alguns anos, enquanto o que estamos usando já existe há cerca de dez anos, talvez até mais. A verdadeira resposta é que o algoritmo deles não consegue encontrar a lua. Não que a lua não esteja presente nos seus dados.

David Kipping

Além disso, também é pontuado que a hipótese do “escurecimento dos membros estelares” já havia sido levada em conta desde a descoberta da primeira exolua, mas que ela não afeta a existência desses objetos.

Heller, por sua vez, disse que examinou o artigo publicado por Kipping e seus colegas, mas continua convencido de que Kepler-1625 b I e Kepler-1708 b I não existem.

Não vejo nada de novo no artigo que possa mudar minha opinião sobre Kepler-1625b e Kepler-1708b serem planetas sem grandes luas. Seu novo estudo gira principalmente em torno de nosso trabalho e tenta encontrar pontos fracos em nossa linha de raciocínio. Isto é um processo natural e muito bem-vindo na ciência moderna, embora neste caso eu não veja nenhum progresso significativo. Refuto a ideia de refutar a refutação deles à nossa refutação da afirmação deles. Acho que o debate permanece incerto e está tudo bem. Vamos em frente!

René Heller

E agora?

Kipping acredita que, por serem bizarramente enormes, as exoluas descobertas não são tão amplamente aceitas pela comunidade científica. Agora, ele espera usar o Telescópio Espacial James Webb para encontrar exoluas mais parecidas com as observadas no Sistema Solar.

Esperamos que isso aumente a confiança de que vimos essas exoluas naquela época e que elas eram realmente interessantes e que deveríamos voltar e observá-las novamente.

David Kipping

Ele também acredita que esse desacordo entre as duas equipes de pesquisadores pode ser proveitoso para outros caçadores de exoluas, que podem encontrar entre os dois métodos, uma maneira convergente de identificar esses objetos.

Assim, quem sabe no futuro, uma técnica refinada para encontrar essas luas extrassolares surja e permita que os grupos de Kipping e Heller se juntem para encontrar um objeto sobre o qual ambos concordem com sua existência.

Via Olhar Digital

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