Na tarde desta quinta-feira (15), o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) atualizou o relatório sobre a investigação da queda do avião ATR-72, da VoePass, em Vinhedo (SP), na última sexta-feira (9).
Segundo nova informação divulgada no documento, “durante o voo em rota, a tripulação perdeu o controle da aeronave“. Anteriormente, os investigadores escreveram que “a aeronave perdeu altura subitamente e colidiu contra o solo”.
Possíveis fatores que levaram à queda do avião
- Segundo informações do Metrópoles, o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) aponta três possíveis situações meteorológicas que podem ter contribuído para a queda da aeronave:
- Turbulência;
- Formação de gelo e ciclone extratropical;
- Fumaça de queimadas.
- O laboratório indicou ainda que o avião passou por zona meteorológica altamente crítica por nove minutos;
- Entre 13h10 e 13h19, houve redução da velocidade da aeronave, que atravessou nuvens supercongeladas de até −40 °C;
- Segundo o fundador do Lapis, Humberto Barbosa, as condições meteorológicas no momento do acidente eram “caóticas”.
A seguir, entenda mais as questões relacionadas à meteorologia no momento da queda:
Turbulência e água supercongelada
Imagem de satélite (veja a seguir) mostra que o avião passou por sistema frontal de turbulência formado por nuvens Cirrocumulus, que se forma por conta de muita umidade e nos altos níveis de nossa atmosfera.
Dada a severa turbulência, a primeira grande oscilação da aeronave se deu às 12h52, no momento em que a velocidade dela foi bruscamente diminuída de 529 km/h para 398 km/h.
Às 13h06, perto da queda, ela saiu rapidamente de 604 km/h para 491 km/h, perdendo cada vez mais velocidade daí em diante. A última informação coletada indicou que o avião estava a 63 km/h e altitude de 1.798 m.
Barbosa indicou ainda que havia condições atípicas de congelamento dada a alta umidade, formada por gotículas líquidas supercongeladas, a partir de seis a sete mil metros de altura. O avião trafegava a cerca de 5,1 mil metros.
Havia um sistema frontal, com muita umidade e turbulência, frio extremo e água supercongelada. Essa situação é capaz de levar a aeronave a entrar em condições de formação de gelo.
Humberto Barbosa, fundador do Lapis
Formação de gelo
Outra imagem de satélite indica a altura do ponto de congelamento na atmosfera. A água supercongelada tinha temperatura de cerca de −55 °C (abaixo do ponto de congelamento).
Estando líquida e muito congelada graças às temperaturas hiper-baixas, a água, possivelmente, teve maior aderência ao avião e virou gelo, indicou o Lapis, o que pode ter afetado a aerodinâmica da aeronave.
À medida que se aproximava do destino, a aeronave enfrentou muitas perturbações e variações na composição das nuvens complexas. Áreas com formação de gelo, nuvens mais altas e nuvens mais baixas. Houve grande variação nas temperaturas e nas condições de pressão.
Humberto Barbosa, fundador do Lapis
Na segunda imagem (veja mais abaixo), a área em vermelho tinha água supercongelada, gotículas de gelo ou cristais de gelo. No ponto destacado, a temperatura estava em torno de −38 °C.
Na história da aviação e de acidentes aéreos, temos que a formação de gelo tem potencial de causar danos ao motor e demais importantes dispositivos dos aviões por conta do processo de resfriamento.
Existem, ainda, casos nos quais tal condição afeta a capacidade de detecção de pressão do ar pelos tubos de Pitot, que medem a velocidade do ar.
Pode ser também que alguns sensores tenham sido alterado pelo gelo, podendo ter informado, erroneamente, dados da velocidade, entre outras informações, podendo, assim, ter confundindo os pilotos.
Na manhã de sexta-feira (9), um ciclone extratropical se formou sobre o Uruguai e o Rio Grande do Sul, fazendo com que mais umidade fosse injetada sobre a região do acidente.
Barbosa explicou que isso fez com que a condição meteorológica ficasse ainda mais caótica, o que pode ser visto em nova imagem de satélite abaixo.
Na imagem a seguir, de composição colorida, vemos nuvens sobre o nordeste de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, indo até o Oceano Atlântico.
Nas cores amarelo e ciano, vemos o ciclone extratropical. Tais nuvens são associadas ao deslocamento de frente fria, massa de ar frio e seco, de origem polar, causando queda na temperatura.
Como se não bastasse, o avião passou por ventos de alta intensidade, com velocidade em torno de 53 km/h e que vieram da Amazônia. Eles eram adversos, já que empurraram a aeronave.
Na segunda imagem (veja a seguir), do satélite GOES-16, vemos nadadeiras na cor roxa, que representam tais ventos, no interior de São Paulo, classificados como de alta pressão.
Na imagem abaixo, vemos a fumaça das queimadas, que vieram para o Sudeste pelo ar seco da Amazônia. Ela ficou nos mais altos níveis de nossa atmosfera, adquirindo o formato de aerossóis.
O laboratório apontou que isso tornou a água ainda mais fria e líquida, transformando-a em gelo e, possivelmente, deixando o avião ainda mais pesado. Apesar de terem reduzido a força da chuva, os aerossóis diminuíram ainda mais a temperatura da água, que já estava se transformando e gelo.
Portanto, mesmo sendo frente fria típica de inverno, houve muita convecção (nuvens verticais), que já poderiam ter gelo.
Lembrando que o relatório técnico preliminar da Força Aérea Brasileira (FAB) ficará pronto em cerca de 30 dias, estima o órgão.