Sabe por que a China domina amplamente o mercado de carros elétricos? Muita gente pode responder aqui que é por causa da mão-de-obra barata. E essas pessoas não estão erradas. Sim, o custo de trabalho por lá é bem baixo, mas o de outros países também é e, mesmo assim, eles não conseguiram desenvolver essa indústria.
A diferença da China para essas outras nações é o investimento em tecnologia, sobretudo nas baterias. O top-3 global das empresas que mais vendem essas fontes de energia é composto por companhias orientais.
O primeiro lugar pertence à chinesa CATL, responsável por quase 30% do mercado. Na sequência aparece a sul-coreana LG. O terceiro lugar pertence à também chinesa BYD.
Leia mais
Abaixo delas, estão a japonesa Panasonic, as coreanas Samsung e SK On e as chinesas Calb e Envision.
As únicas intrusas da lista são a americana Farasys e a sueca Northvolt. Quer dizer, pelo menos era assim até ontem. A Northvolt acaba de entrar com um pedido de proteção contra falência nos Estados Unidos.
A derrocada da até então principal fabricante de baterias na Europa ajuda a entender um pouco como funciona esse universo.
Um pouco de história
- A Northvolt foi fundada em 2016 pelo ex-funcionário da Tesla Peter Carlsson.
- O principal objetivo da empresa era se tornar uma fonte europeia confiável de células de bateria para ajudar a alimentar a transição da região para EVs.
- Governos e investidores estavam ansiosos para apoiar um player local que pudesse reduzir a dependência do Ocidente da China.
- Até o final de 2023, a Northvolt havia garantido cerca de US$ 15 bilhões em patrimônio e subsídios, enquanto sua carteira de pedidos havia aumentado para mais de US$ 50 bilhões.
- A gigante automobilística alemã Volkswagen estava entre os principais apoiadores com uma participação de 21%, enquanto o banco Goldman Sachs detinha cerca de 19% das ações da Northvolt.
- Tudo ia muito bem (ou parecia que ia bem), até que a companhia começou a atrasar algumas entregas neste ano.
- Depois veio a divulgação dos números de 2023 – e a certeza de que algo ia mal: a Northvolt relatou perdas de aproximadamente US$ 1,2 bilhão, com receita de apenas US$ 128 milhões no ano passado.
- Em março, a fabricante de caminhões Scania disse que estava atrasada em seus planos de eletrificação por culpa da Northvolt.
- Em junho, a BMW cancelou um contrato de aproximadamente US$ 2 bilhões com a empresa sueca.
- Desde junho, a Northvolt cortou um quarto da sua força de trabalho sueca e suspendeu vários projetos de expansão.
- E agora veio a notícia do pedido de proteção contra a falência.
O que aconteceu com a companhia
O próprio Carlson disse ao jornal The Wall Street Journal que cometeu erros estratégicos:
“Eu provavelmente deveria ter puxado o freio antes em alguns dos caminhos de expansão. Olhando para trás, fomos ambiciosos demais em relação ao momento”, afirmou o executivo.
Especialistas na área concordam com esse diagnóstico. Afirmam que a Northvolt não tinha experiência na construção de uma indústria de processos e acabou colocando o carro na frente dos bois.
Explicam que produzir células de bateria é complexo e caro. E que novas fábricas podem levar anos para aumentar a produção. Além disso, elas devem saber trabalhar com altas taxas de sucata por causa de problemas durante o processo.
A Northvolt não colocou esse componente na conta e fechou contratos demais em um espaço curto de tempo. O resultado foram clientes ficando na mão e recorrendo às chinesas.
Na outra ponta, o desaquecimento do mercado elétrico fez com que algumas montadoras reduzissem ou suspendessem projetos. A Northvolt ficou numa espécie de beco sem saída e começou a perder dinheiro.
Carlson ainda aposta em uma recuperação para a sua startup. E afirmou que outras companhias ocidentais que quiserem entrar nesse mercado enfrentarão as mesmas dificuldades. Nesse aspecto, a vitória, mais uma vez, foi da China.
As informações são do The Wall Street Journal.