Na primeira parte deste artigo, abordamos a discussão que envolveu a ausência de dados de baixas temperaturas verificadas no Birô de Meteorologia (Bureau of Meteorology, BOM) australiano, durante eventos meteorológicos de intenso frio que ocorreram em 2017 e que causaram bastante repercussão. Segundo jornalistas e cientistas independentes, os casos não puderam ser considerados como eventos isolados, especialmente quando tais situações ocorreram na chegada de sistemas frontais antárticos que derrubam as temperaturas, notadamente nas áreas mais frias do país.
Segundo o chefe-executivo do BOM, Andrew Johnson, que ainda preside a agência, na ocasião, ele teria dado ordens para a substituição imediata dos equipamentos, o que poderia demorar até várias semanas, sob a alegação de que os aparelhos poderiam estar defeituosos. A afirmação foi totalmente contrária ao pronunciamento realizado dias antes na sala de imprensa, quando a porta-voz do BOM categoricamente afirmou que havia uma programação sistêmica para o bloqueio de baixas temperaturas a fim de que não fossem registrados valores anômalos muito frios. Isso é um verdadeiro absurdo, pois o controle de qualidade de informações jamais deve ser realizado na aquisição do dado e, sim, na análise das tabelas-produto, sempre verificadas por um meteorologista experiente.
Como relatamos anteriormente, a bióloga Jennifer Marohasy acompanhou o problema de perto — ela é uma das cientistas australianas céticas em relação ao discurso ambientalista-climático. Marohasy afirmou naquele momento que os registros de temperatura ajustados pelo BOM são simplesmente “propaganda” e não ciência, pois chegou a analisar alguns dos dados brutos de temperatura de vários lugares da Austrália, justamente os primordiais para se verificar quais são os seus padrões de tendências intrínsecas. Ao compará-los com os dados do BOM, acabou por descobrir que as informações relatadas pela agência criaram uma tendência de aquecimento artificial. A bióloga foi além e disse que os “ajustes” feitos pelo BOM alteraram os registros de temperatura australiana de uma leve tendência de resfriamento para um “aquecimento dramático” ao longo do século passado.
O fato é que Johnson quis assegurar que, depois daquelas flagrantes ocorrências, tudo estaria em ordem na sua rede de AWS (Automatic Weather Station — Estação Meteorológica Automática) e os tais processos associados ao “controle de qualidade” de dados para observações de temperatura. Porém, é aí justamente que reside a discussão desde aquele momento, ou seja, a rede de estações automáticas de medição.
O que chamou atenção naquela semana foi a divulgação de algumas séries de dados de temperatura obtidas por termômetros meteorológicos tradicionais de mercúrio, que operaram em paralelo às AWS. O resultado revelou uma diferença significativa: as medições feitas pelos instrumentos tradicionais foram consistentemente mais baixas do que aquelas registradas pelas estações automáticas.
Já sabemos que as redes de AWS não podem ser deixadas ao relento, como se tudo ali funcionasse sem qualquer problema. As manutenções não apenas precisam seguir uma periodicidade específica, de acordo com as condições do sítio, como também devem passar por checagens comparativas. Isso deve ser feito por meio de registros simultâneos obtidos com instrumentos convencionais devidamente calibrados e expostos às mesmas condições dos automáticos que se pretende aferir. As verificações em laboratório (as chamadas “de bancada”) não são suficientes por si só.
Essa operação metodológica encarece o sistema de obtenção de dados, mas é vital. Tal prática é plenamente reconhecida, planejada e, em muitos casos, obrigatória para uma agência estatal que se propõe a realizar medições meteorológicas contínuas, declaradas como “oficiais, padrão OMM”, em uma rede de estações — especialmente as automáticas. Em teoria, esse processo deveria ser a principal preocupação dos diretores dessas agências, sobretudo considerando a atenção desproporcional que vêm dando a centésimos de grau Celsius, muitas vezes irrelevantes e desprovidos de significado físico real.
Há dois anos, em 19 de abril de 2023, Marohasy concedeu entrevista à rede local Sky News, onde relatou os problemas encontrados.
Além da contínua falta de transparência do BOM em fornecer acesso aos dados e às metodologias aplicadas nas AWS, o que chamou atenção naquela semana foi a divulgação — depois do esforço hercúleo do grupo liderado por Marohasy, que pleiteia liberdade de informação — de algumas séries de dados de temperatura obtidas por termômetros meteorológicos tradicionais de mercúrio, que operaram em paralelo às AWS. O resultado revelou uma diferença significativa: as medições feitas pelos instrumentos tradicionais foram consistentemente mais baixas do que aquelas registradas pelas estações automáticas.
Em geral, os sensores eletrônicos que trabalham com elementos resistores sensíveis à variação de temperatura do ar registraram valores 0,7oC mais elevados que os termômetros de mercúrio, milimetricamente confeccionados para a medição desse mesmo parâmetro de forma manual, em cerca de 41% dos casos. Em vez do BOM se pronunciar sobre o assunto, permaneceu ignorando o problema, fugindo da discussão, como é de praxe daqueles que têm algo a esconder. Lembremos que eles fazem um alarde pela fantasiosa subida de 1,5oC em mais de um século, quando os erros da última década estão na metade deste patamar.
Dra. Marohasy ainda falou sobre a homogeneização de dados, ou seja, outros procedimentos matemáticos que vão maquiando os dados brutos reais de forma que eles possam apresentar a tendência desejada. Vejamos que há variações na Austrália que mostram uma amplitude das temperaturas máximas, por exemplo, de apenas 0,5oC em 100 anos, variação que é ridiculamente pequena em Climatologia, ainda mais pela sua grande oscilação interanual. Mas há exemplos em que as mesmas séries, com os mesmos dados, apresentam o cálculo dessa amplitude acima de 3,5oC em 100 anos. No caso, verificou-se a aplicação de um “esticamento”, pois se admitiu o maior e o menor valor de uma série como corriqueiros, o que desqualifica a raridade do seu caráter, ponderando-os como iguais à imensa maioria das outras ocorrências ordinárias.
Esse ainda não é um problema maior, pois é possível reverter a condição, mas a questão da calibração e verificação dos dados automáticos em relação aos convencionais, curiosamente desde 1996, é muito mais crítica. Não é possível realizá-la sem o acesso ao registro obtido de forma convencional e, nesse ponto, o BOM peca miseravelmente em não permitir o acesso público aos dados de suas 38 estações convencionais paralelas (o BOM tem cerca de 700 AWS e a maior parte é apenas de estações de medição de temperatura do ar máxima e mínima – MMTS).
Isso é mais terrível do que se possa imaginar. Eles tratam as informações como classificadas, dando um ar de “segurança nacional”. É uma falta de nexo total, tendo em vista que o monitoramento satelital, já há décadas, acha rastros de formigas no chão. Alegar que o processo de escaneamento das tabelas manuais de dados é altamente oneroso, ou pior, cobrar milhares de dólares para a liberação desses dados significa que estão a chamar as pessoas de otárias, pois a obtenção dessas informações é realizada com dinheiro do contribuinte. Ademais, enquanto o BOM sustenta que não há diferenças estatísticas entre os dados automáticos e manuais, a Dra. Marohasy, com os poucos dados a que teve acesso, constata que sim, elas existem!
Mas o mais surpreendente da entrevista vem no fim, quando a bióloga citou o antigo caso do Climategate I, episódio no qual o então chefe da Climatic Research Unit (CRU, Unidade de Pesquisa Climática) inglesa, Philip Douglas Jones (Phil Jones), além de relatar o “truque” de como esconder os declínios de temperatura que ocorreram no passado recente da História climatológica da Terra, ainda concordou com Michael E. Mann de que os cientistas céticos não poderiam ter acesso aos dados convencionais primários de forma alguma. Todas essas tentativas deveriam ser frustradas ou dificultadas ao máximo em todos os institutos de meteorologia pelo mundo.
Depois de assistir à entrevista de 2023, procuramos mais informações sobre em que estado ficou a análise dos dados e se alguma auditoria foi realizada. Pois bem, o que encontramos foram os mesmos problemas, especialmente no que tange ao acesso e verificação dos dados brutos. De lá para cá, governos já mudaram, de ambos os espectros políticos e, mesmo assim, nada foi feito oito anos depois!
Assim, no fim de abril de 2025 contatei a Dra. Jennifer Marohasy para saber o desenlace da situação. Para a nossa não tão surpresa, as coisas degringolaram. Ela respondeu: “Obrigado, Ricardo. A situação só piorou com o acesso aos dados. Agora, o Birô Australiano nega a existência de dados paralelos, embora eu já tenha feito uma análise da pequena quantidade de dados que tive acesso na estação meteorológica do Aeroporto de Brisbane e, além disso, há o trabalho que fiz dos dados de Mildura.”
Ela ainda relatou que não há nenhuma ajuda dos advogados ou de outras pessoas que deveriam ter interesse pelo que ocorre, por exemplo, os agricultores, comerciantes e industriais. No momento, “eles só querem que esse constrangimento desapareça”, completou. É simplesmente surreal. Primeiro, eles escondem, depois alegam que é caro para copiá-los, depois dizem que será necessário pagar e finalmente dizem: “Quais dados? Nunca ouvimos falar deles!”. É assim que a tal “ciência climática” opera? Já passou da hora de se encerrar este embuste!
Temos desde o fechamento das estações rurais, invenção de dados e estações-fantasma, aos históricos encerramentos das EMS em lugares frios, como por exemplo, algumas da Sibéria, que no desmonte soviético, várias foram encerradas e não fazem mais parte da média global, seja lá de que abstração isto se configure para o clima.
Ela ainda relatou que o Tribunal Administrativo de Apelações encerrou o caso e que, no momento, passa dificuldades por estar desempregada e sem condições aparentemente de um novo trabalho. Oremos por esta senhora batalhadora que busca trazer a verdade, pois esse sistema maligno opera para destruir pessoas, tendo em vista que não admitem discussões que exponham as suas mentiras e fraudes. Foi assim com Dr. Willie Soon, Dra. Susan Crockford, Dr. Timothy Francis Ball, Dr. Ted Nikolov e o que aqui lhes escreve. Mesmo nessa tribulação, a Austrália, além de Marohasy, ainda conta com a jornalista independente e escritora Joanne Nova e o geólogo Ian R. Plimer que arrasam os embustes climáticos.
Perceberam que, mesmo com ondas de frio colossais, com registros recordes de temperaturas baixas (2021) na Antártica e uma La Niña que perdurou por três anos, ficou fácil “aquecer” a temperatura do ar desde o início do século 21? O pior é que não para por aí. A coisa está cada vez pior. Temos desde o fechamento das estações rurais, invenção de dados e estações-fantasma, aos históricos encerramentos das EMS em lugares frios, como por exemplo, algumas da Sibéria, que no desmonte soviético, várias foram encerradas e não fazem mais parte da média global, seja lá de que abstração isto se configure para o clima.
Assim vai se tornando muito fácil produzir um “aquecimento” nas séries para média global, quando se encerram as medições das estações em lugares frios ou se alteram dados deliberadamente. Um exemplo brasileiro foi o término do projeto Meteoro do INPE, em 2011, que desde o fim dos anos de 1980 vinha registrando os dados meteorológicos na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), ao norte da península Antártica, Ilha Rei George/25 de Mayo. A série começou a mostrar uma redução dos valores de temperatura para esse setor da região marítima da Antártica: portanto, não se tornou mais interessante que tais informações fossem apresentadas.

Certamente, os cientistas do clima do século 22, se é que teremos Ciência até lá, não poderão utilizar os dados de temperatura do século 21 por contaminação “política”. Em vez de termos registros fidedignos para o nosso melhor entendimento da atmosfera e os climas regionais, as informações vêm descaradamente sendo adulteradas, deixando de ter a confiabilidade para os registros climatológicos de longo período.