Falar de Brasília é falar de Oscar Niemeyer, que se consolidou como o mais importante arquiteto brasileiro do século 20. Carioca, Niemeyer nasceu e morreu no Rio de Janeiro e teve uma longeva vida, quando faleceu aos 104 anos em 2012.
Reconhecido por suas formas arrojadas, ele é um dos nomes mais significativos de toda a arquitetura moderna e catapultou sua reputação com a construção em apenas três anos da capital nacional, quando preencheu Brasília com edificações monumentais e a transformou em um verdadeiro museu a céu aberto.
Com os trabalhos de Niemeyer e do urbanista Lúcio Costa, não é à toa que Brasília é um Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO, com uma área tombada de mais de 112 km², o maior perímetro urbano sob proteção histórica no mundo.
Niemeyer antes de Brasília
Nascido em 1907 no Rio, Niemeyer se formou na Escola Nacional de Belas Artes e chegou a estagiar no escritório de Lúcio Costa, que mais tarde viria a ser o pai dos traçados do plano urbanístico de Brasília.
Na década de 1930, Niemeyer compôs a equipe que projetou o edifício do Ministério da Educação e Saúde na capital fluminense, que foi a semente de sua liberdade de desenho, de seu rigor formal e de suas obras esculturais.
Na década de 1940 veio o projeto do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, e também o florescimento da amizade com Juscelino Kubitschek, que era prefeito da capital mineira na época. Antes de Brasília, foi ele também o responsável pelo projeto da sede da ONU em Nova York e pelos edifícios do Parque Ibirapuera, em São Paulo.
A construção de Brasília
Em 1956 um dos maiores desafios de sua vida foi encarado: a construção, do zero e no meio de uma área deserta, da nova capital brasileira.
Como o arquiteto detalha, ele recusou o convite de JK de fazer o projeto da nova capital. Ele ficaria somente com os projetos dos prédios governamentais. E assim foi: o projeto urbanístico escolhido foi o de Lúcio Costa, com traçados que formavam uma espécie de cruz.
“Minha permanência em Brasília começou quando tudo era deserto e solidão, quando somente a obra do Catetinho se iniciava”, descreveu no livro “Minha Experiência em Brasília”. Hoje um pequeno museu, o Catetinho, projeto de Niemeyer, foi erguido em apenas 10 dias e serviu como primeira residência oficial de Juscelino Kubitschek no novo Distrito Federal.
Em 1958 o arquiteto mudou-se de vez para a futura cidade para a fiscalização direta das obras, em que passou a morar em uma residência simples. A solidão e a saudade da cidade grande eram amenizadas pelos companheiros, com direito a rodas de violão, pandeiro e noites na Cidade Livre em um ambiente de “velho-oeste”.
Certo de que estava levando o “progresso” para estas bandas do Planalto Central, Niemeyer ficou surpreso com os frutos das obras diante do apertado cronograma. O Palácio da Alvorada, por exemplo, foi construído somente em 12 meses, tempo para erguer uma simples casa, como ele mesmo comparou.
Sua preocupação era erguer os palácios com simplicidade e nobreza com auxílio de formas claras e belas, sem limitações funcionalistas. Eles ainda deveriam constituir algo de novo e diferente “de modo a proporcionar aos futuros visitantes da Nova Capital uma sensação de surpresa e emoção que a engrandecesse e caracterizasse”, como explicou no livro.
Brasília, então, “surgia como uma flor naquela terra agreste e deserta”. Em 21 de abril de 1960 ela era oficialmente inaugurada, em que a cidade mais moderna do mundo até então recebeu inclusive as bênçãos do Papa João XXIII. O nascimento da capital federal não somente mudou de eixo a política nacional, mas deixou um legado arquitetônico e identitário ao Brasil que se desdobra até hoje.
Ao longo do tempo, outras obras de Niemeyer surgiram na cidade, como o Teatro Nacional Claudio Santoro na década de 1960; o Palácio do Itamaraty na década de 1970; o Memorial JK e o Edifício Tancredo Neves (hoje Centro Cultural Banco do Brasil) na década de 1980; e a Torre de TV Digital em 2012, um dos seus últimos trabalhos.
5 obras de Niemeyer para visitar em Brasília
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Conjunto da Praça dos Três Poderes
A essência da República fica na Praça dos Três Poderes, que reúne as sedes dos poderes do Estado. São eles: o Palácio do Planalto (poder Executivo), o Congresso Nacional (poder Legislativo) e o Supremo Tribunal Federal (poder Judiciário).
Os edifícios que compõem a praça são de autoria de Niemeyer e têm visitas gratuitas abertas ao público. O Palácio do Planalto, local de trabalho do presidente, tem um acervo de obras que inclui Burle Marx, Di Cavalcanti e Athos Bulcão. As visitas são feitas em grupos e agendadas neste link.
O Congresso Nacional, formado por duas construções em forma de cúpula que abrigam o Senado Federal e a Câmara dos Deputados, tem visitas em dias úteis (menos às terças e quartas) e finais de semana e feriados. As visitas podem ser espontâneas, de acordo com número de vagas, ou agendadas.
Já o Supremo Tribunal Federal, que parece levitar no terreno, tem em seu exterior a famosa estátua “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti, e aceita visitas em seu interior mediante agendamento prévio e individual.
A Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida é uma das obras-primas de Niemeyer. De fora é possível notar a área circular de 70 metros de diâmetro em que foi erguida, de onde se elevam 16 colunas de concreto de 90 toneladas.
Na praça há o campanário, doado pela Espanha e dotado de quatro sinos, e ainda quatro esculturas em bronze que representam os evangelistas. Na entrada há um pilar com passagens da vida de Maria pintados por Athos Bulcão, artista que também possui um painel de lajotas cerâmicas no batistério.
No interior, três anjos que variam de 100 kg a 300 kg ficam suspensos por cabos de aço. O altar foi doado pelo papa Paulo VI, que é completado por uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, uma réplica da original em Aparecida (SP). A via sacra é de autoria de Di Cavalcanti.
A catedral é aberta a visitas, que ficam restritas durante as missas.
Um dos últimos trabalhos de Niemeyer inaugurado ainda em vida, a Torre de TV digital foi aberta em abril de 2012 na comemoração dos 52 anos de Brasília. Apelidada de “Flor do Cerrado”, ela se ergue a 182 metros de altura, sendo 120 de concreto, 60 de estrutura metálica e 2 de antena.
Situada no Lago Norte, tem vistas em 360º da cidade e recebe visitas de terça a domingo e feriados. Para subir no local é cobrada uma taxa de R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia).
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Museu Nacional da República
Com um formato semiesférico com ajuda de uma cúpula de 25 metros de raio, o Museu Nacional da República foi adicionado à vida cultural de Brasília em 2006. Situado na Esplanada dos Ministérios, no Setor Cultural Sul, o museu forma junto da Biblioteca Nacional o Conjunto Cultural da República, que é vizinho da Catedral de Brasília.
Além de acervo próprio com mais de 1.400 obras produzidas no Brasil desde meados do século XX até os dias de hoje, o museu recebe ao longo do ano exposições temporárias, mostras e festivais. Vale ficar de olho na programação no site. A entrada é gratuita e o funcionamento ocorre de terça-feira a domingo das 9h às 18h30.
Primeira construção oficial assinada por Niemeyer em Brasília, o Catetinho foi erguido apenas em 10 dias e inaugurado em novembro de 1956. Chamado de “Palácio de Tábuas”, foi erguido para ser uma base para Juscelino Kubitschek, diretores e personalidades nos primórdios de Brasília, por isso o caráter simples e o uso de madeira.
Hoje ele funciona como um pequeno museu e exibe alguns objetos e mobiliário original, assim como fotos e registros da construção da capital. O museu fica na região de Park Way e tem acesso gratuito, com visitas de terça-feira a domingo das 9h às 17h.
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