À espera de auxílio do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), as companhias aéreas Gol e Azul deram novos sinais de crise mesmo depois da renegociação de dívidas e da proteção judicial para recuperação. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
As duas empresas reportaram R$ 57,6 bilhões em prejuízos acumulados no primeiro semestre.
Em recuperação judicial, a primeira companhia registrou R$ 27,1 bilhões em perdas no semestre, enquanto a segunda teve rombo de R$ 30,5 bilhões.
As empresas apresentam um patrimônio líquido negativo de quase R$ 50 bilhões, o que revela que os ativos delas não são suficientes para cobrir os compromissos financeiros.
Os passivos circulantes da Gol, que devem ser pagos em até um ano, somam R$ 22,8 bilhões, um aumento de 75% em relação ao período entre julho e dezembro de 2023. Se tivesse de pagar tudo, a companhia só poderia usar R$ 7,5 bilhões no curto prazo, indicativo de que novos empréstimos serão necessários.
Para enfrentar essa crise, o setor aéreo vem solicitando apoio do governo Lula. Em fevereiro, o ministro de Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, mencionou um pacote de socorro de até R$ 6 bilhões, que envolve discussões com o Ministério da Fazenda e a Casa Civil.
No entanto, o que há de mais concreto até o momento é uma emenda a um projeto de lei apresentado em 2019 para reforma da Lei Geral do Turismo.
A norma, aprovada em junho pelo Senado, permite que o Fundo Nacional de Aviação Civil seja usado como garantia para empréstimos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O texto prevê que o fundo poderá ser usado para “apoio financeiro reembolsável mediante concessão de empréstimo aos prestadores de serviços aéreos regulares para o adequado desenvolvimento de suas atividades.”
Em junho, o ministro afirmou que as companhias aéreas Gol e Azul poderiam acessar as linhas de crédito um mês depois da aprovação do projeto de lei.
No entanto, ele está parado desde 3 de julho, quando o deputado Paulo Aziz (União-BA) foi designado relator. A campanha eleitoral é o principal entrave.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou a necessidade de contrapartidas, como a compra de aviões da Embraer pelas companhias aéreas.
“Quando elas compram da Embraer, estão recolhendo impostos, realimentando o sistema econômico no Brasil, não está transferindo divisas para o exterior, mantêm o investimento, geram emprego e geram renda”, afirmou Mercadante. Ele acrescentou que as contrapartidas seriam exigidas no momento da contratação.
O que dizem Gol e Azul
Consultada pela Folha, a Azul disse que a desvalorização do real e a alta do querosene de aviação tiveram peso relevante no desempenho no semestre.
Além disso, afirma que o fechamento do Aeroporto de Porto Alegre e a redução da operação na região, que representa mais de 10% da capacidade da companhia, também exerceram influência.
“Mesmo com esses fatores adversos, a companhia continuou a gerar fortes resultados operacionais, com o Ebitda [lucro antes de impostos, juros, depreciações e amortizações] atingindo R$ 1,1 bilhão e margem de 25,2%, uma das mais altas da indústria”, disse em nota.
A Gol não quis se manifestar.