O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes ligou para o padre Júlio Lancellotti na noite de quinta-feira (4) para prestar “solidariedade e apoio”, após o nome do religioso ter sido apontado como alvo de um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal de São Paulo.
A informação foi divulgada pelo próprio padre, em entrevista à CNN.
“Ontem à noite, o ministro Alexandre de Moraes me ligou, eu fiquei muito sensibilizado com essa ligação. Ele manifestou solidariedade, apoio, porque eu conheço o ministro Alexandre de Moraes há mais de 30 anos, desde o seu trabalho aqui em São Paulo, na Secretaria da Justiça e na Segurança Pública”, disse.
“Ele disse que está juntando todas as informações e, para isso também, ia conversar com o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, que manifestava apoio e solidariedade e, naquilo que fosse necessário, que nós o acionássemos.”
De acordo com o padre, o objetivo da conversa de Moraes com o presidente da Casa, vereador Milton Leite (União-SP), é “entender como é que está funcionando, porque se fala da CPI, mas ela é uma proposta, ela não está nem ainda votada no colégio de líderes e nem no plenário”, segundo ele. “Ela ainda precisa passar por todo um ritual institucional e, depois, há outras 44 CPIs propostas.”
O requerimento para abertura de CPI é de autoria do vereador Rubinho Nunes (União-SP) e foi protocolado em 06 de dezembro. A expectativa de Nunes é de que a comissão seja instalada no início do calendário legislativo, em fevereiro.
Na justificativa, o parlamentar afirma que a CPI buscará “examinar as atividades desempenhadas e se elas estão sendo executadas de maneira satisfatória” pelas ONGs que atuam na região da “Cracolândia”, na capital paulista.
Após a declaração do autor do requerimento de abertura da CPI, Lancelloti afirmou que as comissões são legítimas, mas acrescentou que não pertence a nenhuma Organização da Sociedade Civil (OSC), e que as ações da pastoral estão submetidas à arquidiocese de São Paulo.
Lancellotti vem recebendo uma série de mensagens de solidariedade de representantes dos Três Poderes. Um deles foi o presidente Lula (PT), que afirmou nas redes sociais:
“Graças a Deus a gente tem figuras como o @pejulio, na capital de São Paulo, que há muitos e muitos anos dedica a sua vida para tentar dar um pouco de dignidade, respeito e cidadania às pessoas em situação de rua. Que dedica sua vida a seguir o exemplo de Jesus. Seu trabalho e da Diocese de São Paulo são essenciais para dar algum amparo a quem mais precisa.”
Após a declaração de Rubinho Nunes sobre Lancellotti, vereadores passaram a anunciar, publicamente, a retirada de suas assinaturas do requerimento de abertura da CPI. Só na quinta-feira (4), foram quatro anúncios.
Nas redes sociais, o vereador Tammy Miranda (PL) afirmou que o nome do Padre Júlio Lancellotti não foi mencionado – direta ou indiretamente – no pedido de CPI. E reiterou que o projeto não tem o apoio dele se o objetivo é atacar o padre. O parlamentar ainda fez uma transmissão nas redes sociais ao lado do padre, afirmando que jamais assinaria uma CPI com o nome de Lancellotti.
O vereador Sydney Cruz afirmou, por meio das redes sociais, ter muita “admiração, carinho e gratidão pelo Padre Lancellotti”.
O vereador Xexéu Tripoli afirmou à CNN que investigação de casos de suposto mau uso de recursos públicos não pode servir de pretexto para perseguição política e disse que não concorda com o rumo que esta CPI está tomando mesmo antes da sua instalação”.
Já a vereadora Sandra Tadeu (União Brasil) informou ser a favor de uma CPI ampla e que ouça as ONGs e o poder público municipal, estadual e federal e não de uma CPI para investigar o padre Júlio Lancellotti.
Em nota encaminhada à CNN, o vereador Rubinho Nunes (União Brasil), que protocolou o pedido da CPI, afirma respeitar a posição dos vereadores. Mesmo assim, afirmou que ainda há grande apoio na Câmara e que colegas têm manifestado anuência e a CPI das ONGs, que segundo o parlamentar, deve ser instalada.
A Câmara dos Vereadores informou, por meio de nota, que “o tema será tratado no Colégio de Líderes, na volta do recesso parlamentar.”
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