Localizada no lado ocidental da Antártida, a geleira Thwaites, também chamada de “Geleira do Juízo Final”, tem sido alvo de preocupação global. Esta geleira, que possui dimensões maiores do que o estado da Flórida, representa uma das barreiras naturais que evitam que águas oceânicas quentes atinjam a camada de gelo antártica, o que poderia causar elevação catastrófica dos níveis do mar.
Atualmente, a Thwaites já é responsável por cerca de 4% da elevação anual dos oceanos, perdendo aproximadamente 50 bilhões de toneladas de gelo a cada ano.
Um estudo publicado em maio deste ano por cientistas da Universidade da Califórnia, Irvine, e da Universidade de Waterloo revelou que correntes de maré aquecidas estão acelerando o derretimento da Thwaites, causando um recuo maior do que os modelos anteriores previam. Usando imagens de satélite de alta resolução e dados hidrológicos, os pesquisadores identificaram áreas críticas onde essas correntes penetram sob a geleira, intensificando o derretimento.
Christine Dow, glaciologista da Universidade de Waterloo e coautora do estudo, alertou em entrevista ao Scientific American: “Esperávamos que o processo durasse 100, 500 anos para perdermos tanto gelo. Uma preocupação importante agora é que isso ocorra muito mais rápido.”
Geleira do Juízo Final: perspectivas mais otimistas e necessidade de modelos aprimorados
- Apesar das previsões alarmantes, uma pesquisa de agosto realizada pelas Universidades de Dartmouth e de Edimburgo trouxe uma perspectiva menos sombria.
- Ela sugere que a Thwaites talvez não seja tão vulnerável à chamada instabilidade de penhascos de gelo marinho (MICI, na sigla em inglês) como se acreditava.
- Segundo a hipótese MICI, penhascos altos formados pelo recuo das geleiras tendem a colapsar mais facilmente.
- Porém, a pesquisa sugere que o afinamento da Thwaites poderia reduzir as taxas de desmoronamento, destacando a importância de modelos mais precisos para previsões futuras.
- A Geleira do Juízo Final, também conhecida como Geleira Thwaites, fica na Antártida Ocidental.
- Ela está localizada na borda da camada de gelo da Antártida Ocidental (WAIS), e sua posição próxima ao oceano a torna especialmente vulnerável ao derretimento causado por correntes marinhas aquecidas.
Geoengenharia pode ser uma solução para frear o recuo da Thwaites
Diante da possibilidade de um derretimento acelerado, que poderia resultar em um aumento extremo do nível do mar, cientistas estão debatendo soluções de geoengenharia glacial. Essa área de pesquisa explora o uso de tecnologia e infraestrutura para retardar ou interromper o recuo das geleiras, especialmente em contextos onde o aumento das temperaturas globais se mostra inevitável.
Em julho, o grupo Climate Systems Engineering Initiative, da Universidade de Chicago, lançou um relatório recomendando pesquisas mais aprofundadas em geoengenharia glacial. John Moore, professor no Centro Ártico da Universidade de Lapônia e coautor do relatório, defende a necessidade de estudos urgentes: “Serão necessários de 15 a 30 anos para entendermos o suficiente e recomendar ou descartar qualquer intervenção de geoengenharia glacial”, disse Moore ao UChicago News.
Entre as ideias sugeridas está a construção de “cortinas submarinas”, que poderiam impedir parcialmente que as correntes de maré aquecidas atinjam a Thwaites. Essas barreiras, feitas de tecido ou mesmo bolhas, seriam criadas a partir de tubos perfurados que bombeariam ar entre a geleira e as águas mais quentes.
Debates sobre riscos e a necessidade de reduzir emissões
Propostas de geoengenharia como as cortinas submarinas, porém, enfrentam resistência. Muitos glaciologistas e cientistas climáticos acreditam que essas iniciativas desviam o foco da questão mais urgente: a redução das emissões de carbono.
Gernot Wagner, economista climático da Columbia Climate School, expressou uma visão ponderada ao GlacierHub: “Essas alternativas podem distrair da necessidade de cortar emissões.” Ele pondera, contudo, que “se pessoas sérias estão considerando essas soluções, talvez devêssemos levar isso mais a sério e reduzir emissões de forma mais agressiva”.
Para Wagner, a geoengenharia glacial pode, no máximo, funcionar como um “analgésico” que aliviaria temporariamente os impactos mais extremos, enquanto medidas de combate às emissões são intensificadas.