Na mitologia romana, Diana é a deusa da lua e da caça, com espírito poderoso e aventureiro. Uma vez a bordo do SH Diana, o mais novo navio de cruzeiro da empresa britânica Swan Hellenic, é possível sentir todo esse espírito viajante guiar nossos sentidos, já que a embarcação supermoderna nos leva para “onde os outros não te levam”, como ressalta o slogan da companhia.
Tal mantra é levado ao pé da letra com roteiros inusitados que fogem do turismo tradicional, os quais desafiam nossa zona de conforto. Das regiões polares às paisagens da África e da América Latina, vários são os itinerários propostos pelo navio em diferentes mares, em que uma estrutura completa alia gastronomia e serviços de primeira.
Inaugurado em maio nas águas de Amsterdã, o SH Diana logo elevou a experiência de expedições culturais pela qual a Swan Hellenic se destaca no mercado. Pude zarpar com o navio em agosto a partir de Lisboa com um roteiro que me impressionou pela não obviedade: uma expedição cultural e geopolítica pelos mistérios da civilização cartaginesa e dos mouros com paradas em costas do Norte da África.
Ambas as civilizações deixaram para trás um rastro riquíssimo de legados e influências que se misturaram com novas formas de vida e conquistas na Bacia do Mediterrâneo. Ruínas da antiga cidade de Cartago, na Tunísia, souks e medinas pelo Marrocos, a influência francesa na Argélia e um caldeirão cultural na Sicília estão entre as paradas que vi e vivi ao longo de 11 dias no cruzeiro.
O navio
Maior navio da frota da Swan Hellenic, que possui ainda outras duas embarcações, o SH Diana conta com 96 cabines, a maioria com varandas, e 11 suítes. O navio acomoda um total de 192 viajantes e, para fazer a magia acontecer, a tripulação é composta por 140 integrantes – uma proporção de quase um tripulante para um viajante.
Sobre os quartos, são oito tipos de acomodações à escolha dos hóspedes. As cabines variam de 20 a 47 m², esta última com uma sala separada com direito a lareira ecológica que imita o efeito das chamas. Minha experiência se deu em uma suíte de 28 m² que segue o design sóbrio das acomodações e possui varanda privativa.
Fora dos quartos estão à nossa disposição um spa, uma sauna seca com vistas panorâmicas para o lado externo, um lounge social, uma biblioteca, uma piscina com direito a churrasqueira anexa e até um laboratório.
No âmbito da gastronomia, o The Swan Restaurant é o principal restaurante do navio, o qual ganha um charme extra quando o sol se põe, dando lugar ao serviço de jantar. Uma sala de jantar privativa para grupos também está disponível para os hóspedes.
A embarcação tem 125 metros de comprimento e 20 de largura, em que se espalham nove deques e vários observatórios e lounges. Para os passeios fora do navio são dois barcos do tipo “tender” com capacidade para 48 passageiros e outros 15 botes infláveis semelhantes aos “zodiacs” usados na Groenlândia.
O bacana é que nas cidades e regiões que o navio atraca é possível fazer excursões inclusas e outras opcionais ao lado de guias e historiadores, o que deixa a jornada ainda mais rica.
Construído na Finlândia, é interessante também saber que o navio pode ser autossuficiente por até 40 dias e que possui sistemas avançados de tratamento de águas residuais e de armazenamento de resíduos para operar em áreas polares, que são mais sensíveis.
6 países, 10 cidades
Digo que viajar abre nosso olhar para novas perspectivas, em que aprendizados pipocam pelo caminho. Nos redimir, inclusive dos nossos pensamentos, também faz parte, já que entramos em contato com novos territórios, histórias e, mais especialmente, pessoas.
Foi esse o resultado causado em mim durante os 11 dias de navegação por um pedacinho do Atlântico e pelo Mar Mediterrâneo, em que o roteiro “Mistérios de Cartago e dos Mouros” teve início em Lisboa e foi finalizado na Sicília, passando por destinos fora da caixinha que incluíram paradas na Espanha, no Marrocos, na Argélia e na Tunísia.
De Lisboa, o SH Diana atracou primeiro em Portimão, cidade portuária no badalado Algarve que é marcada por praias cheias de falésias. Nesta paradinha está inclusa uma excursão para a cidade de Lagos e para a freguesia de Sagres, que tiveram suma importância na era dos descobrimentos.
Também é possível dar um pulinho no Cabo de São Vicente, uma ponta de terra no extremo de Portugal conhecido como o “fim do mundo conhecido”. Entre os passeios opcionais é possível sair de barquinho pela costa do Algarve e passar pelo famoso Algar de Benagil, caverna acessível por mar que possui um buraco em seu topo, formando uma paisagem para lá de fotogênica.
Depois foi hora de seguir para Sevilha, a capital da região da Andaluzia, na Espanha, que tem uma rica história, remontando à época romana. Saímos do navio e fomos conhecer suas ruas, que são carregadas de uma arquitetura que reflete a influência renascentista e mudéjar, ou seja, a arquitetura islâmica na península ibérica.
Por aqui é imperdível se admirar com a Catedral de Sevilha, a maior catedral gótica do mundo e patrimônio mundial da UNESCO; visitar o Real Alcázar de Sevilha, conjunto de palácios rodeados por uma muralha que nos abre para o mais antigo palácio habitado da Europa; e, por fim, a Plaza de España, com seus azulejos coloridos e arquitetura arrojada, em que possui 50 mil m² de área e um canal com 500 metros de extensão com passeios de barco.
O Norte da África
Deixando a Espanha foi a vez de atracarmos no Tânger, porta de entrada para o Marrocos. O trajeto é feito pelo Estreito de Gibraltar, ligação da África com a Europa de apenas cerca de 14 km de largura.
A cidade possui arquitetura única que combina influências marroquinas, árabes e europeias, além de ter sido alvo de conquista de diversas civilizações. Visitar a medina, a cidade antiga, é testemunhar resquícios medievais convivendo com traços modernos lado a lado. Um passeio fora do comum são as Grutas de Hércules, que possui ligação com a mitologia grega e onde o Atlântico se encontra com o Mediterrâneo.
Um dos pontos altos da viagem, porém, foi a ida até a Argélia, país que só conquistou sua independência em 1962 após 130 anos de ocupação francesa. É um território que fica em local estratégico dominado por impérios e civilizações ao longo dos séculos e que tem se aberto ao turismo apenas recentemente: para se ter uma ideia, fomos o segundo grupo a fazer turismo em uma das cidades. Foi a vivência real de uma cultura completamente diferente da nossa, de maneira nua e crua.
Foram quatro cidades visitadas: Orã, uma das mais fortificadas do mundo e que possui antiga catedral transformada em impressionante biblioteca; a capital Argel, marcada por sua cidade antiga, um tipo único de medina que é patrimônio da UNESCO; Bejaia, cidade portuária conhecida como “A Pérola do Mediterrâneo” e que possui um dos faróis mais altos do mundo; e Annaba, que esbanja história e foi a cidade em que Santo Agostinho morreu.
Confesso que foi uma sensação estranha sermos um dos primeiros a visitar este território tão pouco conhecido aos olhos estrangeiros, mas recompensador na mesma medida, em que várias reflexões surgiram durante as visitas aos pontos históricos ou simplesmente andando por suas ruas.
Em seguida foi a vez de atracar na Tunísia, mais especificamente na capital Túnis, que me impressionou com toda sua vibração e ruínas. O subúrbio de Cartago, à beira-mar, foi a sede do Império Cartaginês – e daí o nome de nossa expedição. Meu destaque vai para as ruínas de Antonine Baths, complexo arqueológico do século 2 d.C que era um grande lugar de socialização. Colunas, abóbodas e mosaicos característicos da arquitetura romanas estão bem preservados, sendo mais um patrimônio da UNESCO.
Após a rápida passagem pela Tunísia, a viagem chegou ao fim na incrível e multicultural Sicília, em que desembarcamos na deliciosa Palermo. Daqui, emendei dias pela Itália com foco nas experiências únicas que o país me proporciona: gastronomia ímpar, hospedagens de conto de fadas e uma cultura vibrante por cada cantinho.
Se deseja um mergulho cultural e geográfico fora da caixinha, o SH Diana já possui datas para 2024 e 2025 para uma série de roteiros pela Antártica, África do Sul, Madagascar, Oceano Índico, Grécia, Noruega e Islândia, assim como o mesmo itinerário que fiz.
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